quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Como Nasceu a ABVR...

Certa vez recebi um cartão de visita e um convite para conhecer um grupo de mútua-ajuda. Foi em novembro de l999. O grupo funcionava à tarde no auditório do PAM I (térreo do INSS). Não era grupo de AA (Alcoólicos Anônimos), nem mesmo de NA (Narcóticos Anônimos), era apenas um grupo de alcoolistas que reunia-se 3 (três) vezes por semana, apoiados pelos serviços profissionais do médico, Heitor Mércio (Dr.Mércinho), e, voluntários do amigo, Sr. Argeu Azambuja (infelizmente, este último, falecido - uma grande perda para a comunidade). Os 2 (dois) trabalharam aproximadamente 20 (vinte) anos, ajudando alcoolistas e suas famílias. Naquela época (1999) mantive uma conversa com o Dr. Mércio, que me falou a respeito das dificuldades que os membros do grupo e suas desesperadas famílias, enfrentavam, para conseguir leitos, para desintoxicação e tratamento da síndrome de abstinência, nos hospitais locais. Principalmente pelas questões, cultural e moral, relacionadas a dependência do álcool e também pela falta de conhecimentos científicos, pelos próprios profissionais e trabalhadores da área da saúde. Fiquei interessado em ajudar e discutimos o assunto várias vezes. Resolvi então chamar para mim a responsabilidade de organizar um projeto - com os conhecimentos que tinha a respeito do problema, adquiridos através do trabalho voluntário em grupos de mútua-ajuda, anexos, respectivamente, à Cruz Vermelha Internacional e à Clínica Pinel, ambas em Porto Alegre - não só para alcoolismo, mas também para outras dependências químicas; projeto esse que não fosse apenas mútua-ajuda, bem mais amplo, com atuação em várias áreas: tratamento individual personalizado para álcool e outras drogas, específico para cada caso; prevenção; inserção social e cultural; profissionalização dos pacientes; mobilização da comunidade; disseminação de informações e conhecimentos científicos; capacitação de profissionais e formação de multiplicadores, enfim, um projeto arrojado (que muitos duvidaram ser possível na prática). Não tinha nada a perder e somente a ganhar (o bem das pessoas), então, fui em frente. Na seqüência o Dr. Mércio, com o qual o projeto deu seus primeiros passos - por questões particulares - não pôde seguir conosco. Continuei no propósito e recebi apoio moral na época do ex-colega - dos tempos do colégio Auxiliadora - e amigo Sérgio Roberto Dias (empresário da área rural) e de outras pessoas; algumas estão conosco até hoje. Mais adiante, precisamente 4 (quatro) meses após, tive a honra de conhecer o Dr. José Brasil Teixeira Filho, médico neurologista / neurocirurgião, que na época, além dos seus serviços médicos, também disponibilizou - como diretor do centro Mathilde Fayad - a infra-estrutura necessária para o início das nossas atividades. Juntos iniciamos o “Projeto Renascer”, com apoio da psicóloga Andréia Rosa e da assistente social Márcia Valinhas, todos os 3 (três), na época, profissionais do Centro Mathilde Fayad, onde o Projeto Renascer começou através de um convênio com a Prefeitura Municipal de Bagé. Mais tarde passamos à Clínica Brasil na Rua Gomes Carneiro, 1251 - lá, juntou-se a nós, o Dr. Ronaldo Carvalho, médico clínico geral, também com vasta experiência no tratamento hospitalar de alcoolistas. Desde o início do projeto, contamos também com a colaboração de uma voluntária paulista, na época estudante da URCAMP, hoje psicóloga: Jumára Lourenço - incansável no atendimento dos pacientes. Lembro que na época o trabalho era pesado. Em um mesmo dia, trabalhamos 23 (vinte e três ) horas, ininterruptas, pela associação. Não era fácil administrar as carências e dificuldades que apareciam; principalmente a falta de recursos à continuidade da entidade (a demanda aumentava a cada dia de forma geométrica) e a desestrutura social, econômica e profissional dos pacientes e de suas famílias. A maioria não tinha mais nada na vida ou muito pouca coisa. Tínhamos que providenciar tudo. Mas, conseguimos bons resultados - no início modestos - mas conseguimos. Fomos ganhando com o tempo mais experiência - inclusive com os próprios pacientes - e buscando novas alternativas, novos métodos; até chegarmos no ideal e nos resultados positivos que alcançamos ao longo do tempo. Dá para dizer que estamos cumprindo nossos objetivos e metas traçadas. Às vezes tranca aqui... às vezes temos que parar ali... retirar pedras do caminho na hora do descanso... mas, enfim, chegamos aos 12 (doze) anos e hoje tem muitas e muitas pessoas felizes por aí, muitas famílias que conseguiram sair do inferno e vivem, agora, em paz. A toda hora encontro pacientes e familiares contentes na rua. Pessoas que reescreveram suas existências e reconstruíram suas famílias. Não tem maior alegria e satisfação. Sempre ganhamos um largo sorriso de cada um, não importa onde estejam. É gratificante...valeu a pena!
Agradeço...a todos... que colaboraram, para que esse projeto chegasse aos 12 anos de contribuições à nossa sociedade!
Ivo Pereira*

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